sábado, 7 de maio de 2016

A HISTÓRIA INTERTESTAMENTÁRIA

A história inter testamentária abrange o período entre a composição dos últimos livros do Antigo Testamento e a composição dos últimos livros do Novo. As conquistas de Alexandre, o Grande (334 a.C.), e a revolta de Bar Cochba (132—135 d.C.) delimitam esse período. Alexandre subiu ao trono da Macedônia depois do assassinato do seu pai Filipe ii, em 336 a.C. quando chegou ao poder, os judeus viviam sob o domínio do império persa. Dois anos após assumir o trono, Alexandre saiu em campanha militar contra o império persa. Sob sua liderança, venceu batalha após batalha na Ásia Menor, Fenícia, Palestina, Egito, Babilônia, avançando para o leste até o rio Indo. Quando avançou pela Palestina em 332, primeiro tomou Tiro e depois devastou o litoral até Gaza. Samaria e Jerusalém não lhe opuseram resistência. As conquistas de Alexandre trouxeram consigo a expansão do helenismo: a cultura e o espírito gregos. O grego coiné tornou-se a língua comum do leste do Mediterrâneo. Coiné significa “comum” ou “profano”. Não era o grego refinado, clássico, mas o grego aprendido e falado como segunda língua pelos outros povos. O grego coiné tornou-se mais tarde a língua do Novo Testamento. O helenismo enfatizava a educação, o desenvolvimento físico, as competições de atletismo, as artes, a escultura e o teatro, e a filosofia. Os anfiteatros e os ginásios de esportes foram suas características e seu legado. Por ironia, alguns judeus reagiram às investidas do helenismo estabelecendo um programa de educação universal. Todos os meninos hebreus tinham de aprender a ler as Escrituras em hebraico. O desenvolvimento da virtude pela educação, todavia, foi um dos princípios cardeais do helenismo. Alexandre morreu de repente em 323 a.C. No ano 301 a.C., depois da batalha de Ipsos, os territórios do império de Alexandre foram divididos da seguinte maneira:

1) Antígone e seus descendentes ficaram com a Macedônia.

2) Ptolomeu assumiu o Egito e a Líbia.

3) Seleuco obteve controle sobre a Síria e a Pérsia.

A Palestina foi controlada pelos Ptolomeu de 301 a.C. até a batalha de Pânio em 198 a.C., quando caiu sob domínio selêucida.

Sob os Ptolomeu, a Palestina teve um século de desenvolvimento relativamente pacífico.

A revolta dos macabeus teve suas raízes na rivalidade antiga entre duas famílias favoráveis ao helenismo que lideravam Jerusalém: a dos Onias e a dos Tobias. Os efeitos da revolta dos macabeus influenciaram a história dos judeus por muitos anos: 1) Surgiram os hassidins. O ciúme das tradições dos antepassados e a obediência à Torá dirigiam esses “piedosos”. Apesar da dificuldade para se estabelecerem associações diretas, os hassidins provavelmente foram os ancestrais espirituais dos fariseus e talvez dos essênios. 2) Alcançou-se a liberdade religiosa e política. Pela primeira vez desde o exílio, os judeus estavam livres de domínio estrangeiro. Na fornalha da revolta macabeia nasceram o compromisso com a liberdade e um novo espírito de nacionalismo. 3) O povo tornou-se sensível a toda ameaça à lei ou ao templo. Os macabeus tinham liderado a luta pela liberdade para prestar culto de acordo com as tradições dos ancestrais e pela libertação do templo de uma “abominação desoladora” (Dn 9.27; 11.31; 12.11). 4) Conteve-se a adoção compulsória do estilo de vida grego, mas a adaptação sutil ao helenismo continuou. Os macabeus interpretaram a lei à sua maneira, decidindo que podiam lutar no sábado (1Macabeus 2.41). Proclamaram uma festa para honrar sua reconquista do templo. O posto de sumo sacerdote também foi tornado político a tal ponto que Jônatas aceitou ser nomeado para o cargo pelo imperador selêucida Alexandre Balas. Até mesmo os esforços cada vez maiores para ensinar a Torá eram coerentes com a noção platônica de que a virtude pode ser ensinada. 5) A concentração na lei promoveu o desenvolvimento do farisaísmo. O martírio dos justos fez com que se refletisse mais sobre a justiça de Deus, sobre o princípio da retribuição justa e sobre a aceitação da fé na vida após a morte (Dn 12.1, 2). A justiça de Deus não seria frustrada. Ele haveria de vingar os justos e castigar os maus, se não nesta vida, então depois da morte. A certeza de que haveria ressurreição ainda era tão recente no primeiro século que os fariseus e essênios a ensinavam, mas não os saduceus (At 23.8). 6) A literatura apocalíptica floresceu. Daniel e os muitos apocalipses pseudepigráficos (veja “A Literatura Judaica Inter testamentária”) dão testemunho da importância da perspectiva apocalíptica durante o período macabeu. 7) A era dos macabeus deu ao judaísmo uma vitalidade que o tornou capaz de prestar suas duas maiores contribuições: o cristianismo e o judaísmo rabínico.

A ascensão de Jônatas e Simão ao poder marcou o começo de oitenta anos de independência da Judeia, durante os quais ela foi governada pelos descendentes dos macabeus. Esses governantes são chamados “asmoneus”. O nome não é usado em 1 e 2 Macabeus, mas Josefo diz que era um nome de família que vem do bisavô de Matatias. Provavelmente deriva do nome de um lugar (Hesmom ou Hasmona).

Com o passar das décadas, surgiu Herodes. Ele subjugou à força uma insurreição na Galileia, conquistando assim o favor romano e a ampliação do seu domínio (com o acréscimo de Samaria e Celessíria), além do ódio dos judeus. Com apoio romano, Herodes invadiu-a, capturando Jerusalém em 37 a.C. e mandando executar os inimigos. Aproveitou para perseguir os criminosos que assolavam a Judeia e a Galileia, exterminando-os ou expulsando-os da região.

O governo de Herodes é uma história de contrastes trágicos. Ele tentou conseguir a boa vontade dos judeus, mas era odiado por eles porque era idumeu, agente de Roma e substituto dos asmoneus. Herodes foi um grande construtor. Construiu fortalezas por todo o seu território: o Heródio, Massada e Maqueronte são as mais famosas. Construiu o porto de Cesaréia, com seu aqueduto que trazia água do monte Carmelo, e reconstruiu Samaria (Sebaste). Construiu palácios em Jerusalém e Jericó. Mais importante que tudo isso, ele construiu um grande e novo templo em Jerusalém. As obras iniciaram em 20-19 a.C., mas ele foi completado apenas em 64 d.C., pouco antes de ser destruído em 70 d.C. Com a morte de Herodes (4 a.C.), o poder de no­mear o sumo sacerdote passou primeiro para o seu filho Arquelau (4 a.C.—6 d.C.), depois para os procuradores romanos na Judéia (6—41 d.C.), para Agripa i (41-44 d.C.) e finalmente para Agripa ii.

A situação da Palestina era instável e chegou ao ponto de ebulição em 66 d.C. A guerra foi resultado do sentimento anti-romano ali­mentado por procuradores incompetentes e ganan­ciosos, da anarquia cada vez maior e das divisões entre os judeus. A última gota nesses desdobramentos foi o saque que Floro liderou contra o tesouro do templo em Jerusalém. Pilatos também fizera isso, mas dessa vez os judeus se rebelaram. Pararam de oferecer sacrifícios em favor de César. Os zelotes tomaram a fortaleza em Massada e depois expulsaram os romanos de Jeru­salém. A anarquia tomou conta, à medida que judeus e gentios massacravam uns aos outros nas cidades e povoados. Em 68 d.C., Vespasiano estava pronto para atacar Jerusalém. Mas então Nero cometeu suicídio, e Vespasiano adiou o cerco. Dentro da cidade, vários grupos —zelotes, sicários, João de Giscala, Simão, filho de Giora, e os idumeus— lutavam entre si. Vespasiano acabou sendo nomeado imperador e retornou a Roma, deixando a seqüência da guerra nas mãos de seu filho Tito. Tito saqueou brutalmente Jerusalém e, em 70 d.C., incendiou o templo. Os judeus foram proibidos de pôr os pés em Jerusalém. A circun­cisão foi proibida, assim como a observância do sábado e a leitura das Escrituras na Judéia. Os judeus foram dispersos por todo o mundo romano; sobreviveram, porém, como povo sem terra, unido apenas por sua fé, pelas Escrituras e pela sinagoga.

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