Ao salvar o homem, Jesus, sabendo
que o homem foi feito um ser gregário, estabeleceu a necessidade de servirmos a
Deus em um grupo social, a igreja local.
INTRODUÇÃO
- Ao criar o homem, Deus
verificou que o homem não poderia viver sozinho (Gn.2:18), ou seja, o homem,
por natureza, é um ser gregário, isto é, um ser que deve viver em grupo com
seus semelhantes. Em razão disto, criou a família (Gn.2:24).
- Durante a história da
humanidade, Deus sempre manteve o homem em uma comunidade para que, ali,
pudesse com ele Se relacionar. Assim, preservou a família de Noé do dilúvio,
família que se tornou, depois, uma comunidade única (Gn.11:1,2). Com o fracasso
desta comunidade, chamou um homem para dele formar uma nação (Gn.12:2;
Ex.19:6).
- Mas a comunidade que estava
planejada por Deus seria revelada só posteriormente, com a vinda de Jesus: uma
comunidade espiritual, cujo centro é o próprio Cristo: a igreja, mistério
divino que foi revelado pelo próprio Senhor (Mt.16:18; Ef.3:4-11). É esta
igreja, que é representada na igreja local, que estudaremos nesta lição.
I. CONCEITOS DE IGREJA
- A palavra "igreja"
vem do grego "ekklesia", que significa "reunidos para
fora". A igreja é, assim, um grupo de pessoas que foram reunidas para fora
do mundo, do maligno e do pecado. A primeira vez que a palavra aparece na
Bíblia é através de uma afirmação de Jesus (Mt.16:18). Neste primeiro sentido,
a igreja é tomada no sentido de povo de Deus, de reunião de todos os salvos por
Jesus Cristo, descrito em passagens como Hb.12:23, I Pe.2:9 eAp.21:3.
OBS: "…A igreja é uma
comunidade local, mas também universal. Todos os seres humanos que aceitam e
consideram Cristo como Cabeça, tendo tido um encontro com o Espírito Santo,
passaram pelo novo nascimento, são membros da Igreja.…"
- Além deste significado
universal, a palavra "igreja" também se refere ao grupo de pessoas
que se reúnem num determinado lugar para adorar e servir a Deus. É um grupo
social, uma organização humana formada por pessoas que aceitaram a Cristo e
que, na sociedade, vivem para anunciar o Evangelho. Este sentido local e humano
vemos em passagens como At.13:1, I Co.1:1 eAp.1:4, entre outras.
OBS: "… Ela (a igreja,
observação nossa) é uma assembleia local, servindo de centro de edificação para
os convertidos.…"
- Assim, quando falamos em
igreja, temos dois significados bem distintos e que não podem ser confundidos:
o primeiro é o significado universal, da igreja tomada como corpo de Cristo, ou
seja, como um povo de todas as nações, de todas as tribos, de todas as épocas,
dos salvos por Jesus Cristo. Enquanto tomada neste significado, a igreja é una,
é universal, é um organismo espiritual, um dos três povos que existem na
humanidade, o povo descrito em Ef.2:13-22.
- O segundo, o significado local,
da igreja tomada como um grupo social, ou seja, como uma porção do povo de
Deus, uma comunidade que habita num determinado lugar, numa determinada época e
que é salvo por Cristo Jesus. Enquanto tomada neste significado, as igrejas são
várias, são locais, são organizações humanas, um dos muitos grupos que compõem
uma determinada sociedade.
- É importante sabermos
distinguir estes dois significados, pois, se, espiritualmente, a igreja é uma
só e se constitui no sal da terra e na luz do mundo, socialmente, a igreja é um
grupo que vive no meio da sociedade e que, pelo seu caráter e natureza
espirituais, acabam sendo luz do mundo e sal da terra, mas que vive no meio dos
demais homens. A falta de consciência desta duplicidade de significado do termo
igreja gera muitos equívocos, como a confusão da igreja enquanto corpo de
Cristo com a igreja local (ou a denominação religiosa), que gera concepções sem
qualquer respaldo bíblico como sectarismos, consideração de costumes como
doutrina e outros falsos ensinamentos.
- Enquanto igreja universal,
vemos o corpo de Cristo, um povo santo, sem qualquer mancha ou falha (Ef.5:27).
São os lavados no sangue do
Cordeiro e cujas vestes são brancas(Ap.22:14). São os vencedores, que receberão
a coroa da justiça(II Tm.4:8), são aqueles que desejam e clamam pela volta de
Jesus(Ap.22:17). Esta igreja é invisível aos olhos humanos, mesmo os dos santos
(cfr. I Rs.19:10, 14 e 18), tem como cabeça a Jesus Cristo(Ef.1:22) e não
depende de qualquer fator humano para se constituir e subsistir neste mundo
(cfr.At.8:1-4). É esta igreja que está desfrutando a sua dispensação, também
chamada de dispensação do Espírito Santo ou dispensação da graça(Ef.3:1,2),
cujo fim será, exatamente, quando esta igreja for arrebatada por Jesus, que com
ela Se encontrará nos ares(I Co.15:51-58).
OBS: "…A Igreja de Jesus
Cristo é composta de bilhões vezes bilhões de almas, uma multidão que homem
algum jamais poderá calcular. Com certeza, a Igreja será inaugurada quando
todos os remidos, de todos os tempos, juntamente com os santos que morreram desde
o princípio da geração, e foram evangelizados por Cristo após a ressurreição,
estiverem reunidos em número incalculável, liderados pelo Senhor Jesus Cristo,
que irá adiante da grande multidão e nos apresentará ao Pai, dizendo: Hebreus
2.13:'...Eis-me aqui e aos filhos que Deus me deu.'…" (Osmar José da
SILVA. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.110).
- Enquanto igreja local, este
povo é um grupo social que, como todo grupo humano, contém elementos sinceros e
autênticos, mas também elementos insinceros e falsos. Estamos no mundo e,
apesar de a igreja local ser formada pelo Senhor, que resgata as pessoas do
pecado e do mundo, enquanto aqui estamos, o inimigo insere, também, indivíduos
no meio deste grupo social, tal qual joio é colocado no meio do trigo
(cfr.Mt.13:24-30, 36-43), quando não consegue enganar alguns, que se deixam
seduzir pela sua própria concupiscência(Tg.1:13-16). Por isso, a Bíblia sempre
adverte a respeito de falsos mestres(II Pe.2:3, Jd.4), de lobos no meio de
cordeiros(At.20:29), de anticristos (IJo.2:18,19), indivíduos que estão na
igreja local, embora não façam parte da igreja universal.
- Na igreja local, existe um
governo (Ef.4:11-13;Rm.12:8; Ap.1:20), para que possa haver ordem e edificação
espiritual dos crentes na sua caminhada para a glorificação.
II. O RELACIONAMENTO DO CRISTÃO COM A IGREJA LOCAL
- A igreja local, embora seja um
grupo social humano, não é uma criação ou invenção do homem. Como já dissemos,
Deus fez o homem um ser gregário e, portanto, faz parte do plano divino que o
homem, em sociedade, adore e sirva ao Senhor enquanto não chega o instante da
glorificação. Jesus revelou o mistério da igreja e sempre afirmou que Seus
discípulos executariam a Sua obra em grupo, jamais solitariamente. Interessante
observar que, para isto demonstrar, nunca enviou discípulos solitários, mas
pelo menos de dois em dois(Lc.10:1). Mesmo aqueles que foram sozinhos anunciar
as boas-novas (como a mulher samaritana) foram com uma missão de reunião de
pessoas que, posteriormente, em conjunto, iriam ao encontro do Mestre
(cfr.Jo.4:39-42). Talvez a única exceção seja o ex-endemoninhado gadareno, que
foi mandado sozinho, mas mesmo neste caso, vemos que havia o propósito de
reunião de pessoas para servir a Deus(Lc.8:39) e, mesmo assim, devemos observar
que os ex-endemoninhados, na narrativa de Mateus, eram dois (Mt.8:28).
- O modelo bíblico para o cristão
envolve, necessariamente, o pertencimento a uma igreja local. Como parte que
somos da igreja universal, do corpo de Cristo, deixamos o mundo, o pecado e
tudo o que os cerca e somos, inevitavelmente, atraídos pela presença do Senhor.
Ora, o Senhor faz-Se presente de forma toda especial quando estiverem dois ou
três reunidos em Seu nome(Mt.18:20), ou seja, para que Deus esteja no meio dos
cristãos, Se apresente como Consolador, como Propiciador, faz-se mister que
haja uma reunião, que haja uma igreja local. Tanto assim é que, no dia de
Pentecostes, a Bíblia relata-nos que os salvos seagregaram(At.2:41), ou seja,
passaram a viver reunidos, em grupo(At.2:44,46).
- É importante verificarmos que
este é o modelo bíblico, porque há muitos sendo iludidos, nos nossos dias, com
o falso ensinamento do "self service", ou seja, o que é possível
servir a Deus solitariamente, quando muito em família, sem que se esteja
filiado a qualquer igreja local. Dizem estes falsos mestres que as igrejas
locais são imperfeitas, estão repletas de injustiças, de hipocrisia e de falso
moralismo e que Deus não Se agrada disto, sendo, pois, melhor que cada um, na
sua própria sinceridade de coração, sirva a Deus em casa, sozinho, sem se
arriscar a ser conivente com coisas erradas que sempre ocorrem nas igrejas
locais, como têm demonstrado os escândalos cada vez mais freqüentes. Este
pensamento, que, aparentemente, parece ser correto, é totalmente contrário à
Palavra de Deus e jamais deve ser adotado por um verdadeiro e sincero cristão.
Senão vejamos.
- Em primeiro lugar, quem
determinou que devemos estar reunidos e servir a Deus num grupo social
denominado igreja local é o próprio Deus, através da Sua Palavra. Desde o dia
de Pentecostes, vemos a igreja se reunindo para louvar e adorar ao Senhor, bem como
para orar e aprender da Sua Palavra. Se é este o modelo bíblico, o modelo
estabelecido pelo Senhor, como poderemos ser crentes sinceros e verdadeiros,
obedientes fora do modelo criado pela cabeça da Igreja, que é Cristo ? Se
Cristo é a cabeça, devemos fazer como Ele nos mandou(Jo.2:5).
- Em segundo lugar, somente num
grupo social, que é a igreja local, é que poderemos crescer espiritualmente. A
Bíblia nos informa que é na igreja local que se desenvolve o ministério da
palavra(At.6:4), que se manifestam os dons espirituais(I Co.12:11,25) bem assim
os dons ministeriais(I Co.12:28-31), pois o crescimento espiritual necessário
ao cristão exige, sobretudo, que estejamos todos reunidos num determinado
grupo(Ef.4:16).
- Em terceiro lugar, somente num
grupo social é que poderemos exercitar o verdadeiro amor cristão, um amor que é
altruísta, que pensa no outro e no qual demonstramos os indispensáveis frutos
que devem atestar o nosso caráter cristão(Jo.15:16; Mt.5:16;7:17). Somente numa
vida em grupo poderemos socorrer os mais necessitados(At.6:1,2; IICo.8:1-5;
Fp.2:25), realizar uma contínua e fervorosa intercessão(At.12:5) e ter um
trabalho organizado, contínuo e profícuo na obra do Senhor(I Co.3:5-15).
- Em quarto lugar, quando tomamos
a decisão de não pertencermos a igreja local alguma, porque ela é falha e
imperfeita, estamos, implicitamente, dizendo que somos melhores do que todos os
outros homens, o que é uma atitude diametralmente oposta a de um verdadeiro
cristão, que deve humilde de coração(Mt.11:29) e considerar os outros como
superiores a si mesmo(Fp.2:3). Se assim não estamos agindo, não podemos dizer
que somos, sinceramente, servos do Senhor.
- É por isso, aliás, que, após a
conversão, que é o ato pelo qual passamos a integrar a igreja universal, alcançando
a salvação, mediante o arrependimento de nossos pecados(Mc.1:15;
Jo.3:16;17:2,3), há uma ordenança do Senhor para que nos batizemos em água, em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo(Mt.28:19), ato pelo qual passamos a
integrar uma igreja local, confessando publicamente que nos arrependemos de
nossos pecados(At.8:36-38; Rm.10:9). Naturalmente que, depois, por necessidade
de mudança desta comunidade, podemos nos transferir para outra igreja local,
quando, então, seremos recebidos mediante a devida recomendação da igreja local
anterior ou, então, por aclamação, conforme as circunstâncias peculiares de
cada caso concreto.
- Outra variante deste falso
ensinamento a respeito do "self service" que tem alastrado em nossos
dias é a que se refere às "células", movimento que tem sido
propagandeado, principalmente, pelo movimento G-12, que, inclusive, tem
encontrado guarida em alguns segmentos das próprias Assembléias de Deus. Neste
falso ensino, tem-se difundido a idéia de que a igreja primitiva se desenvolvia
nas casas dos crentes, em pequenos grupos, de modo que há uma necessidade de
que se retome o modelo da igreja primitiva, que teria sido abandonado ao longo
da história da igreja, que substituiu as "células", como chamam estes
pequenos grupos em que consistiria a igreja primitiva, por grandes templos e
grandes estruturas burocráticas, que levam ao desvio espiritual.
- Em primeiro lugar, é importante
verificar que a igreja primitiva não começou se reunindo em casas, como é
preconizado, mas, ao nascer, passou a se reunir no templo em Jerusalém, mais
precisamente no alpendre de Salomão, local coberto e espaçoso em que se
costumavam fazer reuniões naquela casa consagrada para a adoração ao
Senhor(At.2:46; 3:1;5:12).
- Em segundo lugar, devemos
observar que, com o início da perseguição, o povo passou a se reunir em casas
dos crentes (dos que ainda as possuíam, pois era costumeiro que os crentes
vendessem suas propriedades, cfe.At.2:45), como se lê em At.12:12, mas,
percebamos todos, estas reuniões em residências não representavam uma
substituição da reunião geral num local previamente escolhido. Em Antioquia
havia uma igreja local(At.13:1) e, durante toda a evangelização dos gentios,
vemos sempre Paulo, primeiramente, indo pregar nas sinagogas, local que era
destinado ao culto de toda a comunidade judaica, ali também se reunindo com os
gentios (cfr.At.13:14,42), sempre havendo locais em que todos se reuniam
unanimemente para adorar ao Senhor(At.19:9). Não é verdadeiro, portanto, que o
modelo bíblico da igreja primitiva dispensasse algo como a igreja local e
tivesse utilizado "células".
- Em terceiro lugar, é importante
observar que, jamais, as reuniões em casas fez com que desaparecesse o governo
na igreja, pois não só havia deliberações por parte dos apóstolos(At.15), como
havia o estabelecimento de lideranças em todas as igrejas locais que eram
estabelecidas na evangelização(Tt.1:5), de modo que a existência de reuniões em
casas (denominadas de "células" na atualidade) não excluía a
realidade da igreja local, como os atuais propagandeadores do "movimento
celular" alardeiam.
- Além de ter de,
necessariamente, pertencer a uma igreja local, o cristão deve ser um membro
participante, ou seja, segundo a vocação com que foi chamado pelo Senhor,
cooperar com os demais irmãos, para que a obra do Senhor seja realizada naquela
igreja local. A nossa presença na igreja local não é para fazermos número ou
sermos "crentes de banco", como alguns têm até certo orgulho em
afirmar. Nós somos, como afirmam as Escrituras, pedras vivas(I Pe.1:5),
portanto integrantes ativos do corpo de Cristo, que se mostra para os homens
como uma igreja local. Dentro cada um da sua função, devemos exercer o trabalho
para que o Senhor nos tem chamado, pois esta tarefa que ele nos concede não
será feita por pessoa alguma a não ser por nós mesmos. Como afirma,
corretamente, dois versos do hino 93 da Harpa Cristã: " O trabalho a que
Jesus te chama aqui, como será feito se não for por ti ? "
- Se somos pedras vivas de um
edifício, se pertencemos à lavoura de Deus (ICo.3:9), se somos membros do corpo
de Cristo (ICo.12:19,27), cada um de nós tem uma função a ser exercida na casa
do Senhor, por mais simples que ela possa parecer, pois, retomando as palavras
do poeta do hino 93 da Harpa Cristã, "pode ser humilde, mas se for pra
Deus, ele é contemplado lá dos altos céus. E o esforço feito não será em vão,
se tiver de Cristo plena aprovação !". Deus é um Deus que trabalha, por
isso Jesus também trabalhou incansavelmente em Seu ministério terreno(Jo.5:17)
e continua trabalhando na glória(Is.53:12). Devemos ser imitadores de Cristo(I
Co.11:1), motivo pelo qual devemos prosseguir trabalhando(I Co.15:58).
OBS: Ouvimos certa feita um
testemunho de um dos pioneiros da evangelização pentecostal no Vale do Ribeira,
região situada no sul do Estado de São Paulo, aliás a mais pobre região deste
Estado. Este pioneiro relatou que já tinha chamada para a obra missionária,
mas, na sua igreja local, continuava exercendo uma função: a de limpar os
bancos da igreja para os cultos. Certo dia, cansado de tanto esperar a
realização da promessa e entendendo que seu trabalho na igreja local não tinha
qualquer objetivo espiritual ou importância, deliberadamente deixou de limpar
os bancos da igreja para aquele culto de domingo à noite.
O culto iniciou-se e o irmão
estava certo da insignificância de sua tarefa, pois, aparentemente, ninguém
havia notado que os bancos não haviam sido limpos. Num dado instante,
entretanto, uma irmã que estava com uma roupa branca, notou que sua roupa ficou
suja pela falta de limpeza e começou a esbravejar e reclamar, sendo advertida
por outra irmã, que estava ao seu lado, que passou a defender o irmão, dizendo
que, talvez, por algum motivo justo, não se fizera a limpeza dos bancos naquele
dia. A discussão ficou acalorada, a ponto de um homem que estava visitando a
igreja, não-crente, ter se levantado e, próximo ao irmão que deixara de limpar
os bancos, disse que havia ido à "igreja dos crentes" para receber um
pouco de paz e de sentido para a vida, mas, diante daquela discussão das irmãs
e do descaso para com a limpeza dos bancos, via que os crentes não poderiam
solucionar o seu problema e foi embora. Na mesma hora, o irmão percebeu que,
provavelmente, uma alma perdera a oportunidade de alcançar a salvação por causa
de sua negligência. Eis uma importante lição para que saibamos que todo e
qualquer trabalho que fizermos na igreja local é algo que, direta ou
indiretamente, deve contribuir para a obra do Senhor.
- Nesta definição de tarefas que
devemos exercer na igreja local, devemos estar debaixo da orientação do
Espírito Santo. Nunca busquemos ocupar posições na igreja local sem que
tenhamos a devida orientação divina e que tenhamos a certeza de que o Senhor
nos está chamando. Muitos problemas que têm surgido no meio das igrejas locais
decorre, precisamente, da circunstância de se estar substituindo a vontade de
Deus pela vontade do homem na atribuição de tarefas e funções. Embora estejamos
numa organização que tem uma parcela humana em sua estruturação, não devemos
nos esquecer que a igreja local é uma porção da igreja universal e que,
portanto, quem deve dirigi-la é o próprio Senhor. Mesmos aqueles que são
chamados para presidir sobre o povo, devem fazê-lo com cuidado(Rm.12:8) e numa
consciência de que não deve agir como que se tivesse domínio sobre o povo, que
é de Deus(I Pe.5:3). Simpatia, capacidade intelectual, habilidade, posição
econômico-financeira ou social, nada disso pode substituir a vocação divina
para uma determinada tarefa.
- Para que o crente possa exercer
tarefas de maior envergadura na igreja local, ademais, é preciso que esteja
perfeitamente integrado ao grupo social. Sem esta integração, sem esta prévia
socialização do membro, não deve ele assumir responsabilidades grandes na casa
do Senhor, pois isto será um enorme desserviço tanto à vida espiritual do
crente quanto à própria igreja. A maturidade é essencial para o exercício de
certas funções na igreja local(I Tm.3:6). É com tristeza que, muitas vezes,
vemos alguns irmãos serem guindados a certas funções na igreja sem que tenham o
devido preparo espiritual, mormente no que respeita à Escola Bíblica Dominical.
Muitos têm sido conduzidos à posição de professores da EBD sem que, ao menos,
tenham um currículo de alunos da EBD. Há, mesmo, pasmem todos, novos convertidos
que têm sido levados a esta posição, só por terem erudição e cultura, o que,
embora seja muito bom para um professor de EBD, é algo absolutamente
secundário, porquanto é preciso que o professor de EBD seja versado nas
Escrituras e não na sabedoria humana (cfr. ICo.2:1-5). Tenhamos, pois, muito
cuidado no instante de atribuirmos tarefas aos neoconversos.
- O cristão deve freqüentar as
reuniões de sua igreja local, com assiduidade, pois o momento mais importante
da igreja local é, precisamente, o do culto divino. Neste instante, devemos
estar prontos para prestar uma adoração conjunta diante de Deus, sabendo que
Ele está no nosso meio, aproveitando a oportunidade para anunciarmos a
salvação, pregando a Palavra àqueles que convidamos e estamos evangelizando,
bem como aos ouvintes que, trazidos pelo Espírito Santo, se fizerem presentes.
O culto é o ponto alto da igreja local, que deve, assim, ter uma liturgia, ou
seja, uma ordem no culto a Deus, liturgia que não pode impedir a ação do
Espírito Santo, pois onde Ele está , aí há liberdade(II Co.3:17). Esta
liberdade, entretanto, não pode ser confundida com libertinagem e balbúrdia.
Deus é um Deus de ordem e decência(I Co.14:40). Embora reconheçamos que a
igreja local deve ser um ambiente de confraternização e de amizade (como
veremos infra), o culto não é momento para encontros, para conversas ou coisas
do gênero. A falta de reverência nos cultos tem sido alarmante e já é a minoria
que, antes do início do culto, busca a presença do Senhor, pois a maioria esmagadora
dos crentes fica conversando, papeando e, pasmem, entabulando negócios, ao
invés de adorar o Senhor. Devemos ter reverência nos nossoscultos(Ec.5:1), o
que é plenamente possível, pois esta reverência é encontrada por nós, todos os
dias, em outras denominações evangélicas.
OBS: Com respeito à liturgia das
Assembléias de Deus, registremos aqui uma importante consideração do pastor
Osmar José da Silva, presidente da AD em Sorocaba/SP: "…a liturgia
praticada é moderadamente livre, como são as igrejas pentecostais tradicionais.
Por tratar-se de uma igreja de liturgia livre moderada, estes quesitos variam
muito de igreja para igreja, de congregação para congregação, não sendo imposta
uma norma litúrgica obrigatória, vez que varia também muito o tipo de culto.(…).
As Assembléias de Deus não adotam certos costumes nos rituais dos seus cultos,
como exemplo, ósculos, danças, lava-pés etc., bem como ritmos musicais como o
roque (rock) e outros que levam ao sensualismo, no entanto, nos últimos tempos,
têm surgido grupos procurando denominar-se como o mesmo nome, trazendo costumes
mais livres, dentro da liturgia dos cultos. Hoje, no Brasil, são dezenas de
grupos religiosos se intitulando de 'Assembléia de Deus' que não constam dos
anais da história da tradicional Igreja nem pertencem a mesma Convenção. Tais
movimentos procuram gozar do conceito da verdadeira Assembléia de Deus, mas não
seguem os mesmos princípios litúrgicos. Entretanto, existem também algumas
Assembléias de Deus em que os pastores adotam uma liturgia mais livre, adotando
o uso de corinhos, coreografias acompanhadas de cânticos, momentos de adoração
com louvores etc. É oportuno lembrar a palavra do Apóstolo Paulo, que nos
recomenda que se faça tudo com decência e ordem." (Osmar José da SILVA.
Liturgia: rituais, símbolos, cerimônias, doutrinas, costumes, histórias.
p.243,246).
- O cristão deve demonstrar
verdadeiro amor aos demais integrantes de sua igrejalocal(I Jo.2:10). Esta
demonstração de amor envolve um relacionamento sadio, em que buscamos ajudar o
desempenho das tarefas dos demaismembros(Ef.4:16), em que oramos em favor dos
demaismembros(Tg.5:16), buscamos centrar nossos esforços para que se atinjam os
objetivos e finalidades traçados pela direção da igrejalocal (Fp.3:14,15), bem
como demos prioridade aos irmãos em todas as nossas atividades, mesmo
seculares(Gl.6:10).
OBS: " …É imprudente alguém
se considerar grande na Igreja, pois sua grandeza é acima do que podemos
imaginar e cada membro que a compõe não passa de grão de areia na proporção gigantesca
que é a Igreja.…´" (Osmar José da SILVA. Reflexões filosóficas de
eternidade a eternidade, v.6, p.111).
- O cristão, ainda nesta
demonstração de amor, deve sempre manter-se em comunhão com os demais membros
de sua igreja local, evitando contendas e lutas intermináveis e sem qualquer
proveito(I Tm.1:4-7), tendo tolerância e compreensão mútuas(Cl.3:12,13), de
modo a que nos perdoemos e não sejamos julgados pela nossa dureza de
coração(Mt.5:24-26). Neste ponto, aliás, é importante administrarmos as diferenças
de "modus vivendi", pois a graça de Deus é multiforme(I Pe.4:10), de
forma que não podemos pretender que o nosso modo de servir a Deus seja idêntico
ao de nosso irmão, agindo sempre em busca do crescimento espiritual do nosso
irmão, numa visão altruísta e não egoísta (cfr.Rm.14:1-13).
- Sobretudo, o cristão não deve
difamar, nem falar mal de qualquer dos seus irmãos(Tg.4:11), em qualquer
circunstâncias mas, principalmente, fora da igreja local, diante do ímpio, pois
as diferenças e conflitos internos não devem ser exteriorizados, pois isto
acaba se tornando um escândalo e a posição de quem cria escândalos é terrível,
como bem nos ensinou o próprio Jesus(Mt.18:7). É muito lamentável constatarmos
que as igrejas locais têm sido hoje verdadeiros ninhos de fofocas, intrigas e
de maledicências. Que Deus nos guarde deste atual estado de coisas que campeiam
em muitas igrejas locais e, por incrível que pareça, a começar do ministério.
Tomemos cuidado, irmãos, pois a Bíblia é taxativa ao afirmar que os maldizentes
não têm parte no reino de Deus ( ICo.6:10).
- O relacionamento na igreja
local deve ser afetuoso, uma verdadeira extensão de nosso lar. É este o
ambiente que deve imperar nas igrejas locais, pois é o ambiente da igreja
primitiva, que é o modelo bíblico para as nossas igrejas(At.2:44). Nos dias de consumismo
e materialismo que vivemos, esta passagem bíblica é vista apenas do
ponto-de-vista material, havendo, mesmo, quem tenha defendido que havia um
comunismo nos primórdios da igreja cristã, mas muito mais importante do que uma
comunidade material, o que devemos observar na igreja primitiva de Jerusalém
era um ambiente de fraternidade, de amizade, de intimidade emocional e
psicológica. Nossas igrejas locais (principalmente as grandes congregações)
estão longe desta realidade, o que tem sido uma grande oportunidade que se tem
dado para o fracasso dos relacionamentos e para o prejuízo da própria obra de
Deus. Nos dias de competição acirrada que vivemos, de desumanização de todos os
relacionamentos, em que os homens, já movidos pelo espírito do anticristo, tornam-se
cada vez mais mercadorias(Ap.18:11,13), é triste contemplarmos a frieza dos
relacionamentos interpessoais nas igrejas locais. Muitos crentes, hoje em dia,
têm mais intimidade com os colegas de trabalho, com os vizinhos, do que com
seus irmãos na fé. Faz-se preciso que combatamos este estado de coisas, pois
não podemos andar segundo o curso do mundo(Ef.2:2), mas, sim, segundo a direção
do Espírito de Deus, cuja atuação é, exatamente, no sentido contrário ao que
estamos vendo hoje em dia.
- O cristão deve obedecer à
liderança e ao ministério da igreja local. Deus instituiu um governo na igreja,
de forma que temos de respeitar, ser reverentes e obedecer àqueles que o Senhor
tem posto para presidir na igreja local(Hb.13:17). Naturalmente que a obediência,
como sempre, é condicionada, ou seja, devemos obedecer aos líderes na medida em
que atuem em conformidade com a Palavra de Deus(At.5:29). Os líderes, ademais,
como já dissemos neste estudo, não devem se comportar a não ser como
despenseiros da obra deDeus(Tt.1:7), ou seja, simples mordomos, que não podem
querer dominar sobre o rebanho do Senhor, mas servir de exemplo aos fiéis(I
Pe.5:2,3).
OBS: Algum tempo atrás, ouvimos
um importante testemunho de um dos pastores mais respeitados das Assembléias de
Deus na atualidade que relatou sua atitude, ainda como presbítero de uma igreja
do interior do Estado de São Paulo, diante de certos desmandos e ações
ilegítimas de seu então pastor. Diante desta situação, ele e o outro presbítero
da igreja iniciaram uma oração intensa para que Deus resolvesse o problema, não
cedendo à tentação da rebelião e do escândalo. Foi um ano e meio de oração, mas
Deus retirou pacificamente aquele obreiro daquela igreja e a poupou de um
grande escândalo, que acabou ocorrendo na outra igreja para onde aquele obreiro
foi transferido. Devemos confiar em Deus pois Ele é o dono da obra e ninguém
mais do que ele sabe zelar pela Sua amada igreja.
- A igreja local deve ser um
grupo social que tenha condições de complementar, com eficiência, a vida
devocional familiar e a execução de políticas governamentais consentâneas com a
Palavra de Deus. A igreja deve ser o ambiente em que haja o elo de ligação
entre a família e as demais instituições sociais. A um só tempo, a igreja deve
promover a complementação da vida devocional familiar, bem como ser um pólo de
colaboração para o governo, na implementação de políticas que visem o bem comum
e que estejam de acordo com os preceitos bíblicos, como a assistência social,
por exemplo. , a igreja local é o ambiente propício para que demos a devida
orientação à nossa juventude com relação à vida em sociedade sob a perspectiva
dos ensinamentos bíblicos (saúde, sexualidade, namoro, casamento, formação
profissional, entre outros), mormente, nos dias hodiernos, em que muitos lares
estão dilacerados e uma omissão da igreja nesta orientação poderá significar a
total falta de direção segundo a vontade de Deus, lançando nossa mocidade nas
garras de agentes do adversário.
III. O CULTO DOMÉSTICO
- Já falamos da importância do
culto doméstico em duas lições neste trimestre: na lição 1, que fala da vida
devocional diária e na lição 4, que falou sobre o relacionamento com os filhos.
- A igreja local começa em nosso
lar, é uma extensão de nossa casa, como nos faz inferir o texto bíblico
deRm.16:5a. Deste modo, um bom desenvolvimento espiritual da igreja local
depende da vida doméstica de cada um de seus membros. Um grande filósofo
político francês, Jean Bodin, costumava definir a república (ou seja, a
sociedade nacional, o país, para utilizarmos uma linguagem contemporânea), como
sendo a reunião das famílias dos cidadãos. Este mesmo raciocínio vale para a
igreja: é a reunião das famílias. Se a família for bem, a igreja irá bem e
vice-versa.
- Este é um dos motivos pelos quais
o adversário tem lutado incessantemente contra a instituição familiar, pois,
através de uma mazela na família, é atingida a própria igreja local e, por
conseguinte, a obra do Senhor.
- O descuido na vida devocional
familiar, tão freqüente nos nossos dias, é um dos fatores poderosos para as
grandes dificuldades que as igrejas locais têm enfrentado nestes dias finais da
dispensação da graça. Quando vemos, notadamente na Europa, várias igrejas
locais fechando suas portas e comunidades inteiras desaparecendo, encontraremos
a explicação para tais fenômenos na destruição da família conforme o modelo
bíblico que o Velho Continente tem sofrido, notadamente após o término da
Segunda Guerra Mundial.
- O ponto alto da vida devocional
familiar é o culto doméstico, ou seja, o instante em que toda a família se
reúne e presta um culto ao Senhor. É o momento em que a família expõe as suas
necessidades, os seus sentimentos, os seus objetivos, os seus anseios e os
coloca diante do Senhor, bem como faz os devidos agradecimentos e permite que
cada membro da família compartilhe com os demais a vida de comunhão que está
tendo com Deus. É o momento em que, efetivamente, assumimos e reconhecemos que
Deus é o chefe de nossa família, é o Rei Soberano que está traçando as nossas vidas,
que possuem uma comunidade, um objetivo comum estabelecido por todos dentro da
vontade do Senhor.
- A família que cultua a Deus
freqüentemente em sua casa é uma família que, habituada a adorar o Senhor em
casa, não terá dificuldade em prestar um culto reverente na igreja local; é uma
família que aprende a Palavra do Senhor em casa e que, portanto, complementa
seus conhecimentos, aprofundando-os, na igreja local, ajudando o ensino
daqueles que, por falhas domésticas, têm na igreja a única fonte de conhecimento
da Palavra de Deus; uma família que ora em casa, não tem dificuldade em ser uma
intercessora da igreja local, de seus projetos, planos e necessidades; uma
família que ora em casa, é uma família vigilante, que sabe discernir a presença
de Deus e que, assim, é grande colaboradora da liderança da igreja local no
crescimento espiritual e na identificação do logro e do engano.
- Nos dias em que vivemos, em que
a freqüência à casa do Senhor é, no mais das vezes, de uma ou duas vezes por
semana, mormente nas grandes metrópoles, onde a distância entre emprego e
residência é grande, a consumir horas de trânsito e transporte que inviabilizam
a presença em todas as reuniões, é cada vez mais imperioso que se tenha o culto
doméstico na vida devocional de cada um dos cristãos.
- Nos dias em que vivemos, em que
as igrejas locais têm crescido bastante e o ambiente afetivo tem rareado, num
grave comprometimento do modelo bíblico na igreja primitiva, o culto doméstico
surge como sendo absolutamente necessário para que a presença do Senhor e a
adoração ao Seu nome possam estar associados ao afeto e ao sentimento, sem o
que os jovens e adolescentes serão presa fácil das mil e uma oportunidades
oferecidas pelo inimigo para que tenham o exercício das sensações que são próprias
do ser humano.
- Nos dias em que vivemos, em que
o adversário tem se utilizado dos meios de comunicação como grande divulgador
de suas mentiras, de seus valores e do caminho largo que conduz à perdição, é o
culto doméstico a forma de estabelecermos o império de Deus e de Sua Palavra à
nossa família, como verdadeiro antídoto para o veneno que tem sido lançado
constantemente por este mundo mau contra nossos filhos.
- O culto doméstico é o instante
em que podemos exercer, como pais, o múnus de ensinar a Palavra de Deus a
nossos filhos, como foi visto na lição anterior, bem como o indispensável
início para que as igrejas locais estejam sempre plenas da presença do Espírito
de Deus e possam ter poder e autoridade para efetuar o trabalho de
evangelização que se exige nestes dias que antecedem à volta do Senhor.
- O culto doméstico é a arma que
o Senhor deixa ao alcance de cada pai para que possa levar seus filhos a uma instrução
genuína na Palavra do Senhor e possa receber dos filhos uma vida de alegria e
de esperança de vermos todos naquele grande dia diante do Senhor.
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