sexta-feira, 3 de junho de 2016

O CRISTÃO E A IGREJA LOCAL


Ao salvar o homem, Jesus, sabendo que o homem foi feito um ser gregário, estabeleceu a necessidade de servirmos a Deus em um grupo social, a igreja local.

INTRODUÇÃO

- Ao criar o homem, Deus verificou que o homem não poderia viver sozinho (Gn.2:18), ou seja, o homem, por natureza, é um ser gregário, isto é, um ser que deve viver em grupo com seus semelhantes. Em razão disto, criou a família (Gn.2:24).

- Durante a história da humanidade, Deus sempre manteve o homem em uma comunidade para que, ali, pudesse com ele Se relacionar. Assim, preservou a família de Noé do dilúvio, família que se tornou, depois, uma comunidade única (Gn.11:1,2). Com o fracasso desta comunidade, chamou um homem para dele formar uma nação (Gn.12:2; Ex.19:6).

- Mas a comunidade que estava planejada por Deus seria revelada só posteriormente, com a vinda de Jesus: uma comunidade espiritual, cujo centro é o próprio Cristo: a igreja, mistério divino que foi revelado pelo próprio Senhor (Mt.16:18; Ef.3:4-11). É esta igreja, que é representada na igreja local, que estudaremos nesta lição.

I. CONCEITOS DE IGREJA

- A palavra "igreja" vem do grego "ekklesia", que significa "reunidos para fora". A igreja é, assim, um grupo de pessoas que foram reunidas para fora do mundo, do maligno e do pecado. A primeira vez que a palavra aparece na Bíblia é através de uma afirmação de Jesus (Mt.16:18). Neste primeiro sentido, a igreja é tomada no sentido de povo de Deus, de reunião de todos os salvos por Jesus Cristo, descrito em passagens como Hb.12:23, I Pe.2:9 eAp.21:3.

OBS: "…A igreja é uma comunidade local, mas também universal. Todos os seres humanos que aceitam e consideram Cristo como Cabeça, tendo tido um encontro com o Espírito Santo, passaram pelo novo nascimento, são membros da Igreja.…"

- Além deste significado universal, a palavra "igreja" também se refere ao grupo de pessoas que se reúnem num determinado lugar para adorar e servir a Deus. É um grupo social, uma organização humana formada por pessoas que aceitaram a Cristo e que, na sociedade, vivem para anunciar o Evangelho. Este sentido local e humano vemos em passagens como At.13:1, I Co.1:1 eAp.1:4, entre outras.

OBS: "… Ela (a igreja, observação nossa) é uma assembleia local, servindo de centro de edificação para os convertidos.…"

- Assim, quando falamos em igreja, temos dois significados bem distintos e que não podem ser confundidos: o primeiro é o significado universal, da igreja tomada como corpo de Cristo, ou seja, como um povo de todas as nações, de todas as tribos, de todas as épocas, dos salvos por Jesus Cristo. Enquanto tomada neste significado, a igreja é una, é universal, é um organismo espiritual, um dos três povos que existem na humanidade, o povo descrito em Ef.2:13-22.

- O segundo, o significado local, da igreja tomada como um grupo social, ou seja, como uma porção do povo de Deus, uma comunidade que habita num determinado lugar, numa determinada época e que é salvo por Cristo Jesus. Enquanto tomada neste significado, as igrejas são várias, são locais, são organizações humanas, um dos muitos grupos que compõem uma determinada sociedade.

- É importante sabermos distinguir estes dois significados, pois, se, espiritualmente, a igreja é uma só e se constitui no sal da terra e na luz do mundo, socialmente, a igreja é um grupo que vive no meio da sociedade e que, pelo seu caráter e natureza espirituais, acabam sendo luz do mundo e sal da terra, mas que vive no meio dos demais homens. A falta de consciência desta duplicidade de significado do termo igreja gera muitos equívocos, como a confusão da igreja enquanto corpo de Cristo com a igreja local (ou a denominação religiosa), que gera concepções sem qualquer respaldo bíblico como sectarismos, consideração de costumes como doutrina e outros falsos ensinamentos.

- Enquanto igreja universal, vemos o corpo de Cristo, um povo santo, sem qualquer mancha ou falha (Ef.5:27).
São os lavados no sangue do Cordeiro e cujas vestes são brancas(Ap.22:14). São os vencedores, que receberão a coroa da justiça(II Tm.4:8), são aqueles que desejam e clamam pela volta de Jesus(Ap.22:17). Esta igreja é invisível aos olhos humanos, mesmo os dos santos (cfr. I Rs.19:10, 14 e 18), tem como cabeça a Jesus Cristo(Ef.1:22) e não depende de qualquer fator humano para se constituir e subsistir neste mundo (cfr.At.8:1-4). É esta igreja que está desfrutando a sua dispensação, também chamada de dispensação do Espírito Santo ou dispensação da graça(Ef.3:1,2), cujo fim será, exatamente, quando esta igreja for arrebatada por Jesus, que com ela Se encontrará nos ares(I Co.15:51-58).

OBS: "…A Igreja de Jesus Cristo é composta de bilhões vezes bilhões de almas, uma multidão que homem algum jamais poderá calcular. Com certeza, a Igreja será inaugurada quando todos os remidos, de todos os tempos, juntamente com os santos que morreram desde o princípio da geração, e foram evangelizados por Cristo após a ressurreição, estiverem reunidos em número incalculável, liderados pelo Senhor Jesus Cristo, que irá adiante da grande multidão e nos apresentará ao Pai, dizendo: Hebreus 2.13:'...Eis-me aqui e aos filhos que Deus me deu.'…" (Osmar José da SILVA. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.110).

- Enquanto igreja local, este povo é um grupo social que, como todo grupo humano, contém elementos sinceros e autênticos, mas também elementos insinceros e falsos. Estamos no mundo e, apesar de a igreja local ser formada pelo Senhor, que resgata as pessoas do pecado e do mundo, enquanto aqui estamos, o inimigo insere, também, indivíduos no meio deste grupo social, tal qual joio é colocado no meio do trigo (cfr.Mt.13:24-30, 36-43), quando não consegue enganar alguns, que se deixam seduzir pela sua própria concupiscência(Tg.1:13-16). Por isso, a Bíblia sempre adverte a respeito de falsos mestres(II Pe.2:3, Jd.4), de lobos no meio de cordeiros(At.20:29), de anticristos (IJo.2:18,19), indivíduos que estão na igreja local, embora não façam parte da igreja universal.

- Na igreja local, existe um governo (Ef.4:11-13;Rm.12:8; Ap.1:20), para que possa haver ordem e edificação espiritual dos crentes na sua caminhada para a glorificação.

II. O RELACIONAMENTO DO CRISTÃO COM A IGREJA LOCAL

- A igreja local, embora seja um grupo social humano, não é uma criação ou invenção do homem. Como já dissemos, Deus fez o homem um ser gregário e, portanto, faz parte do plano divino que o homem, em sociedade, adore e sirva ao Senhor enquanto não chega o instante da glorificação. Jesus revelou o mistério da igreja e sempre afirmou que Seus discípulos executariam a Sua obra em grupo, jamais solitariamente. Interessante observar que, para isto demonstrar, nunca enviou discípulos solitários, mas pelo menos de dois em dois(Lc.10:1). Mesmo aqueles que foram sozinhos anunciar as boas-novas (como a mulher samaritana) foram com uma missão de reunião de pessoas que, posteriormente, em conjunto, iriam ao encontro do Mestre (cfr.Jo.4:39-42). Talvez a única exceção seja o ex-endemoninhado gadareno, que foi mandado sozinho, mas mesmo neste caso, vemos que havia o propósito de reunião de pessoas para servir a Deus(Lc.8:39) e, mesmo assim, devemos observar que os ex-endemoninhados, na narrativa de Mateus, eram dois (Mt.8:28).

- O modelo bíblico para o cristão envolve, necessariamente, o pertencimento a uma igreja local. Como parte que somos da igreja universal, do corpo de Cristo, deixamos o mundo, o pecado e tudo o que os cerca e somos, inevitavelmente, atraídos pela presença do Senhor. Ora, o Senhor faz-Se presente de forma toda especial quando estiverem dois ou três reunidos em Seu nome(Mt.18:20), ou seja, para que Deus esteja no meio dos cristãos, Se apresente como Consolador, como Propiciador, faz-se mister que haja uma reunião, que haja uma igreja local. Tanto assim é que, no dia de Pentecostes, a Bíblia relata-nos que os salvos seagregaram(At.2:41), ou seja, passaram a viver reunidos, em grupo(At.2:44,46).
- É importante verificarmos que este é o modelo bíblico, porque há muitos sendo iludidos, nos nossos dias, com o falso ensinamento do "self service", ou seja, o que é possível servir a Deus solitariamente, quando muito em família, sem que se esteja filiado a qualquer igreja local. Dizem estes falsos mestres que as igrejas locais são imperfeitas, estão repletas de injustiças, de hipocrisia e de falso moralismo e que Deus não Se agrada disto, sendo, pois, melhor que cada um, na sua própria sinceridade de coração, sirva a Deus em casa, sozinho, sem se arriscar a ser conivente com coisas erradas que sempre ocorrem nas igrejas locais, como têm demonstrado os escândalos cada vez mais freqüentes. Este pensamento, que, aparentemente, parece ser correto, é totalmente contrário à Palavra de Deus e jamais deve ser adotado por um verdadeiro e sincero cristão. Senão vejamos.

- Em primeiro lugar, quem determinou que devemos estar reunidos e servir a Deus num grupo social denominado igreja local é o próprio Deus, através da Sua Palavra. Desde o dia de Pentecostes, vemos a igreja se reunindo para louvar e adorar ao Senhor, bem como para orar e aprender da Sua Palavra. Se é este o modelo bíblico, o modelo estabelecido pelo Senhor, como poderemos ser crentes sinceros e verdadeiros, obedientes fora do modelo criado pela cabeça da Igreja, que é Cristo ? Se Cristo é a cabeça, devemos fazer como Ele nos mandou(Jo.2:5).

- Em segundo lugar, somente num grupo social, que é a igreja local, é que poderemos crescer espiritualmente. A Bíblia nos informa que é na igreja local que se desenvolve o ministério da palavra(At.6:4), que se manifestam os dons espirituais(I Co.12:11,25) bem assim os dons ministeriais(I Co.12:28-31), pois o crescimento espiritual necessário ao cristão exige, sobretudo, que estejamos todos reunidos num determinado grupo(Ef.4:16).

- Em terceiro lugar, somente num grupo social é que poderemos exercitar o verdadeiro amor cristão, um amor que é altruísta, que pensa no outro e no qual demonstramos os indispensáveis frutos que devem atestar o nosso caráter cristão(Jo.15:16; Mt.5:16;7:17). Somente numa vida em grupo poderemos socorrer os mais necessitados(At.6:1,2; IICo.8:1-5; Fp.2:25), realizar uma contínua e fervorosa intercessão(At.12:5) e ter um trabalho organizado, contínuo e profícuo na obra do Senhor(I Co.3:5-15).

- Em quarto lugar, quando tomamos a decisão de não pertencermos a igreja local alguma, porque ela é falha e imperfeita, estamos, implicitamente, dizendo que somos melhores do que todos os outros homens, o que é uma atitude diametralmente oposta a de um verdadeiro cristão, que deve humilde de coração(Mt.11:29) e considerar os outros como superiores a si mesmo(Fp.2:3). Se assim não estamos agindo, não podemos dizer que somos, sinceramente, servos do Senhor.

- É por isso, aliás, que, após a conversão, que é o ato pelo qual passamos a integrar a igreja universal, alcançando a salvação, mediante o arrependimento de nossos pecados(Mc.1:15; Jo.3:16;17:2,3), há uma ordenança do Senhor para que nos batizemos em água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo(Mt.28:19), ato pelo qual passamos a integrar uma igreja local, confessando publicamente que nos arrependemos de nossos pecados(At.8:36-38; Rm.10:9). Naturalmente que, depois, por necessidade de mudança desta comunidade, podemos nos transferir para outra igreja local, quando, então, seremos recebidos mediante a devida recomendação da igreja local anterior ou, então, por aclamação, conforme as circunstâncias peculiares de cada caso concreto.

- Outra variante deste falso ensinamento a respeito do "self service" que tem alastrado em nossos dias é a que se refere às "células", movimento que tem sido propagandeado, principalmente, pelo movimento G-12, que, inclusive, tem encontrado guarida em alguns segmentos das próprias Assembléias de Deus. Neste falso ensino, tem-se difundido a idéia de que a igreja primitiva se desenvolvia nas casas dos crentes, em pequenos grupos, de modo que há uma necessidade de que se retome o modelo da igreja primitiva, que teria sido abandonado ao longo da história da igreja, que substituiu as "células", como chamam estes pequenos grupos em que consistiria a igreja primitiva, por grandes templos e grandes estruturas burocráticas, que levam ao desvio espiritual.

- Em primeiro lugar, é importante verificar que a igreja primitiva não começou se reunindo em casas, como é preconizado, mas, ao nascer, passou a se reunir no templo em Jerusalém, mais precisamente no alpendre de Salomão, local coberto e espaçoso em que se costumavam fazer reuniões naquela casa consagrada para a adoração ao Senhor(At.2:46; 3:1;5:12).

- Em segundo lugar, devemos observar que, com o início da perseguição, o povo passou a se reunir em casas dos crentes (dos que ainda as possuíam, pois era costumeiro que os crentes vendessem suas propriedades, cfe.At.2:45), como se lê em At.12:12, mas, percebamos todos, estas reuniões em residências não representavam uma substituição da reunião geral num local previamente escolhido. Em Antioquia havia uma igreja local(At.13:1) e, durante toda a evangelização dos gentios, vemos sempre Paulo, primeiramente, indo pregar nas sinagogas, local que era destinado ao culto de toda a comunidade judaica, ali também se reunindo com os gentios (cfr.At.13:14,42), sempre havendo locais em que todos se reuniam unanimemente para adorar ao Senhor(At.19:9). Não é verdadeiro, portanto, que o modelo bíblico da igreja primitiva dispensasse algo como a igreja local e tivesse utilizado "células".

- Em terceiro lugar, é importante observar que, jamais, as reuniões em casas fez com que desaparecesse o governo na igreja, pois não só havia deliberações por parte dos apóstolos(At.15), como havia o estabelecimento de lideranças em todas as igrejas locais que eram estabelecidas na evangelização(Tt.1:5), de modo que a existência de reuniões em casas (denominadas de "células" na atualidade) não excluía a realidade da igreja local, como os atuais propagandeadores do "movimento celular" alardeiam.

- Além de ter de, necessariamente, pertencer a uma igreja local, o cristão deve ser um membro participante, ou seja, segundo a vocação com que foi chamado pelo Senhor, cooperar com os demais irmãos, para que a obra do Senhor seja realizada naquela igreja local. A nossa presença na igreja local não é para fazermos número ou sermos "crentes de banco", como alguns têm até certo orgulho em afirmar. Nós somos, como afirmam as Escrituras, pedras vivas(I Pe.1:5), portanto integrantes ativos do corpo de Cristo, que se mostra para os homens como uma igreja local. Dentro cada um da sua função, devemos exercer o trabalho para que o Senhor nos tem chamado, pois esta tarefa que ele nos concede não será feita por pessoa alguma a não ser por nós mesmos. Como afirma, corretamente, dois versos do hino 93 da Harpa Cristã: " O trabalho a que Jesus te chama aqui, como será feito se não for por ti ? "

- Se somos pedras vivas de um edifício, se pertencemos à lavoura de Deus (ICo.3:9), se somos membros do corpo de Cristo (ICo.12:19,27), cada um de nós tem uma função a ser exercida na casa do Senhor, por mais simples que ela possa parecer, pois, retomando as palavras do poeta do hino 93 da Harpa Cristã, "pode ser humilde, mas se for pra Deus, ele é contemplado lá dos altos céus. E o esforço feito não será em vão, se tiver de Cristo plena aprovação !". Deus é um Deus que trabalha, por isso Jesus também trabalhou incansavelmente em Seu ministério terreno(Jo.5:17) e continua trabalhando na glória(Is.53:12). Devemos ser imitadores de Cristo(I Co.11:1), motivo pelo qual devemos prosseguir trabalhando(I Co.15:58).

OBS: Ouvimos certa feita um testemunho de um dos pioneiros da evangelização pentecostal no Vale do Ribeira, região situada no sul do Estado de São Paulo, aliás a mais pobre região deste Estado. Este pioneiro relatou que já tinha chamada para a obra missionária, mas, na sua igreja local, continuava exercendo uma função: a de limpar os bancos da igreja para os cultos. Certo dia, cansado de tanto esperar a realização da promessa e entendendo que seu trabalho na igreja local não tinha qualquer objetivo espiritual ou importância, deliberadamente deixou de limpar os bancos da igreja para aquele culto de domingo à noite.

O culto iniciou-se e o irmão estava certo da insignificância de sua tarefa, pois, aparentemente, ninguém havia notado que os bancos não haviam sido limpos. Num dado instante, entretanto, uma irmã que estava com uma roupa branca, notou que sua roupa ficou suja pela falta de limpeza e começou a esbravejar e reclamar, sendo advertida por outra irmã, que estava ao seu lado, que passou a defender o irmão, dizendo que, talvez, por algum motivo justo, não se fizera a limpeza dos bancos naquele dia. A discussão ficou acalorada, a ponto de um homem que estava visitando a igreja, não-crente, ter se levantado e, próximo ao irmão que deixara de limpar os bancos, disse que havia ido à "igreja dos crentes" para receber um pouco de paz e de sentido para a vida, mas, diante daquela discussão das irmãs e do descaso para com a limpeza dos bancos, via que os crentes não poderiam solucionar o seu problema e foi embora. Na mesma hora, o irmão percebeu que, provavelmente, uma alma perdera a oportunidade de alcançar a salvação por causa de sua negligência. Eis uma importante lição para que saibamos que todo e qualquer trabalho que fizermos na igreja local é algo que, direta ou indiretamente, deve contribuir para a obra do Senhor.

- Nesta definição de tarefas que devemos exercer na igreja local, devemos estar debaixo da orientação do Espírito Santo. Nunca busquemos ocupar posições na igreja local sem que tenhamos a devida orientação divina e que tenhamos a certeza de que o Senhor nos está chamando. Muitos problemas que têm surgido no meio das igrejas locais decorre, precisamente, da circunstância de se estar substituindo a vontade de Deus pela vontade do homem na atribuição de tarefas e funções. Embora estejamos numa organização que tem uma parcela humana em sua estruturação, não devemos nos esquecer que a igreja local é uma porção da igreja universal e que, portanto, quem deve dirigi-la é o próprio Senhor. Mesmos aqueles que são chamados para presidir sobre o povo, devem fazê-lo com cuidado(Rm.12:8) e numa consciência de que não deve agir como que se tivesse domínio sobre o povo, que é de Deus(I Pe.5:3). Simpatia, capacidade intelectual, habilidade, posição econômico-financeira ou social, nada disso pode substituir a vocação divina para uma determinada tarefa.

- Para que o crente possa exercer tarefas de maior envergadura na igreja local, ademais, é preciso que esteja perfeitamente integrado ao grupo social. Sem esta integração, sem esta prévia socialização do membro, não deve ele assumir responsabilidades grandes na casa do Senhor, pois isto será um enorme desserviço tanto à vida espiritual do crente quanto à própria igreja. A maturidade é essencial para o exercício de certas funções na igreja local(I Tm.3:6). É com tristeza que, muitas vezes, vemos alguns irmãos serem guindados a certas funções na igreja sem que tenham o devido preparo espiritual, mormente no que respeita à Escola Bíblica Dominical. Muitos têm sido conduzidos à posição de professores da EBD sem que, ao menos, tenham um currículo de alunos da EBD. Há, mesmo, pasmem todos, novos convertidos que têm sido levados a esta posição, só por terem erudição e cultura, o que, embora seja muito bom para um professor de EBD, é algo absolutamente secundário, porquanto é preciso que o professor de EBD seja versado nas Escrituras e não na sabedoria humana (cfr. ICo.2:1-5). Tenhamos, pois, muito cuidado no instante de atribuirmos tarefas aos neoconversos.

- O cristão deve freqüentar as reuniões de sua igreja local, com assiduidade, pois o momento mais importante da igreja local é, precisamente, o do culto divino. Neste instante, devemos estar prontos para prestar uma adoração conjunta diante de Deus, sabendo que Ele está no nosso meio, aproveitando a oportunidade para anunciarmos a salvação, pregando a Palavra àqueles que convidamos e estamos evangelizando, bem como aos ouvintes que, trazidos pelo Espírito Santo, se fizerem presentes. O culto é o ponto alto da igreja local, que deve, assim, ter uma liturgia, ou seja, uma ordem no culto a Deus, liturgia que não pode impedir a ação do Espírito Santo, pois onde Ele está , aí há liberdade(II Co.3:17). Esta liberdade, entretanto, não pode ser confundida com libertinagem e balbúrdia. Deus é um Deus de ordem e decência(I Co.14:40). Embora reconheçamos que a igreja local deve ser um ambiente de confraternização e de amizade (como veremos infra), o culto não é momento para encontros, para conversas ou coisas do gênero. A falta de reverência nos cultos tem sido alarmante e já é a minoria que, antes do início do culto, busca a presença do Senhor, pois a maioria esmagadora dos crentes fica conversando, papeando e, pasmem, entabulando negócios, ao invés de adorar o Senhor. Devemos ter reverência nos nossoscultos(Ec.5:1), o que é plenamente possível, pois esta reverência é encontrada por nós, todos os dias, em outras denominações evangélicas.

OBS: Com respeito à liturgia das Assembléias de Deus, registremos aqui uma importante consideração do pastor Osmar José da Silva, presidente da AD em Sorocaba/SP: "…a liturgia praticada é moderadamente livre, como são as igrejas pentecostais tradicionais. Por tratar-se de uma igreja de liturgia livre moderada, estes quesitos variam muito de igreja para igreja, de congregação para congregação, não sendo imposta uma norma litúrgica obrigatória, vez que varia também muito o tipo de culto.(…). As Assembléias de Deus não adotam certos costumes nos rituais dos seus cultos, como exemplo, ósculos, danças, lava-pés etc., bem como ritmos musicais como o roque (rock) e outros que levam ao sensualismo, no entanto, nos últimos tempos, têm surgido grupos procurando denominar-se como o mesmo nome, trazendo costumes mais livres, dentro da liturgia dos cultos. Hoje, no Brasil, são dezenas de grupos religiosos se intitulando de 'Assembléia de Deus' que não constam dos anais da história da tradicional Igreja nem pertencem a mesma Convenção. Tais movimentos procuram gozar do conceito da verdadeira Assembléia de Deus, mas não seguem os mesmos princípios litúrgicos. Entretanto, existem também algumas Assembléias de Deus em que os pastores adotam uma liturgia mais livre, adotando o uso de corinhos, coreografias acompanhadas de cânticos, momentos de adoração com louvores etc. É oportuno lembrar a palavra do Apóstolo Paulo, que nos recomenda que se faça tudo com decência e ordem." (Osmar José da SILVA. Liturgia: rituais, símbolos, cerimônias, doutrinas, costumes, histórias. p.243,246).

- O cristão deve demonstrar verdadeiro amor aos demais integrantes de sua igrejalocal(I Jo.2:10). Esta demonstração de amor envolve um relacionamento sadio, em que buscamos ajudar o desempenho das tarefas dos demaismembros(Ef.4:16), em que oramos em favor dos demaismembros(Tg.5:16), buscamos centrar nossos esforços para que se atinjam os objetivos e finalidades traçados pela direção da igrejalocal (Fp.3:14,15), bem como demos prioridade aos irmãos em todas as nossas atividades, mesmo seculares(Gl.6:10).
OBS: " …É imprudente alguém se considerar grande na Igreja, pois sua grandeza é acima do que podemos imaginar e cada membro que a compõe não passa de grão de areia na proporção gigantesca que é a Igreja.…´" (Osmar José da SILVA. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.111).

- O cristão, ainda nesta demonstração de amor, deve sempre manter-se em comunhão com os demais membros de sua igreja local, evitando contendas e lutas intermináveis e sem qualquer proveito(I Tm.1:4-7), tendo tolerância e compreensão mútuas(Cl.3:12,13), de modo a que nos perdoemos e não sejamos julgados pela nossa dureza de coração(Mt.5:24-26). Neste ponto, aliás, é importante administrarmos as diferenças de "modus vivendi", pois a graça de Deus é multiforme(I Pe.4:10), de forma que não podemos pretender que o nosso modo de servir a Deus seja idêntico ao de nosso irmão, agindo sempre em busca do crescimento espiritual do nosso irmão, numa visão altruísta e não egoísta (cfr.Rm.14:1-13).

- Sobretudo, o cristão não deve difamar, nem falar mal de qualquer dos seus irmãos(Tg.4:11), em qualquer circunstâncias mas, principalmente, fora da igreja local, diante do ímpio, pois as diferenças e conflitos internos não devem ser exteriorizados, pois isto acaba se tornando um escândalo e a posição de quem cria escândalos é terrível, como bem nos ensinou o próprio Jesus(Mt.18:7). É muito lamentável constatarmos que as igrejas locais têm sido hoje verdadeiros ninhos de fofocas, intrigas e de maledicências. Que Deus nos guarde deste atual estado de coisas que campeiam em muitas igrejas locais e, por incrível que pareça, a começar do ministério. Tomemos cuidado, irmãos, pois a Bíblia é taxativa ao afirmar que os maldizentes não têm parte no reino de Deus ( ICo.6:10).

- O relacionamento na igreja local deve ser afetuoso, uma verdadeira extensão de nosso lar. É este o ambiente que deve imperar nas igrejas locais, pois é o ambiente da igreja primitiva, que é o modelo bíblico para as nossas igrejas(At.2:44). Nos dias de consumismo e materialismo que vivemos, esta passagem bíblica é vista apenas do ponto-de-vista material, havendo, mesmo, quem tenha defendido que havia um comunismo nos primórdios da igreja cristã, mas muito mais importante do que uma comunidade material, o que devemos observar na igreja primitiva de Jerusalém era um ambiente de fraternidade, de amizade, de intimidade emocional e psicológica. Nossas igrejas locais (principalmente as grandes congregações) estão longe desta realidade, o que tem sido uma grande oportunidade que se tem dado para o fracasso dos relacionamentos e para o prejuízo da própria obra de Deus. Nos dias de competição acirrada que vivemos, de desumanização de todos os relacionamentos, em que os homens, já movidos pelo espírito do anticristo, tornam-se cada vez mais mercadorias(Ap.18:11,13), é triste contemplarmos a frieza dos relacionamentos interpessoais nas igrejas locais. Muitos crentes, hoje em dia, têm mais intimidade com os colegas de trabalho, com os vizinhos, do que com seus irmãos na fé. Faz-se preciso que combatamos este estado de coisas, pois não podemos andar segundo o curso do mundo(Ef.2:2), mas, sim, segundo a direção do Espírito de Deus, cuja atuação é, exatamente, no sentido contrário ao que estamos vendo hoje em dia.

- O cristão deve obedecer à liderança e ao ministério da igreja local. Deus instituiu um governo na igreja, de forma que temos de respeitar, ser reverentes e obedecer àqueles que o Senhor tem posto para presidir na igreja local(Hb.13:17). Naturalmente que a obediência, como sempre, é condicionada, ou seja, devemos obedecer aos líderes na medida em que atuem em conformidade com a Palavra de Deus(At.5:29). Os líderes, ademais, como já dissemos neste estudo, não devem se comportar a não ser como despenseiros da obra deDeus(Tt.1:7), ou seja, simples mordomos, que não podem querer dominar sobre o rebanho do Senhor, mas servir de exemplo aos fiéis(I Pe.5:2,3).

OBS: Algum tempo atrás, ouvimos um importante testemunho de um dos pastores mais respeitados das Assembléias de Deus na atualidade que relatou sua atitude, ainda como presbítero de uma igreja do interior do Estado de São Paulo, diante de certos desmandos e ações ilegítimas de seu então pastor. Diante desta situação, ele e o outro presbítero da igreja iniciaram uma oração intensa para que Deus resolvesse o problema, não cedendo à tentação da rebelião e do escândalo. Foi um ano e meio de oração, mas Deus retirou pacificamente aquele obreiro daquela igreja e a poupou de um grande escândalo, que acabou ocorrendo na outra igreja para onde aquele obreiro foi transferido. Devemos confiar em Deus pois Ele é o dono da obra e ninguém mais do que ele sabe zelar pela Sua amada igreja.

- A igreja local deve ser um grupo social que tenha condições de complementar, com eficiência, a vida devocional familiar e a execução de políticas governamentais consentâneas com a Palavra de Deus. A igreja deve ser o ambiente em que haja o elo de ligação entre a família e as demais instituições sociais. A um só tempo, a igreja deve promover a complementação da vida devocional familiar, bem como ser um pólo de colaboração para o governo, na implementação de políticas que visem o bem comum e que estejam de acordo com os preceitos bíblicos, como a assistência social, por exemplo. , a igreja local é o ambiente propício para que demos a devida orientação à nossa juventude com relação à vida em sociedade sob a perspectiva dos ensinamentos bíblicos (saúde, sexualidade, namoro, casamento, formação profissional, entre outros), mormente, nos dias hodiernos, em que muitos lares estão dilacerados e uma omissão da igreja nesta orientação poderá significar a total falta de direção segundo a vontade de Deus, lançando nossa mocidade nas garras de agentes do adversário.


III. O CULTO DOMÉSTICO

- Já falamos da importância do culto doméstico em duas lições neste trimestre: na lição 1, que fala da vida devocional diária e na lição 4, que falou sobre o relacionamento com os filhos.

- A igreja local começa em nosso lar, é uma extensão de nossa casa, como nos faz inferir o texto bíblico deRm.16:5a. Deste modo, um bom desenvolvimento espiritual da igreja local depende da vida doméstica de cada um de seus membros. Um grande filósofo político francês, Jean Bodin, costumava definir a república (ou seja, a sociedade nacional, o país, para utilizarmos uma linguagem contemporânea), como sendo a reunião das famílias dos cidadãos. Este mesmo raciocínio vale para a igreja: é a reunião das famílias. Se a família for bem, a igreja irá bem e vice-versa.

- Este é um dos motivos pelos quais o adversário tem lutado incessantemente contra a instituição familiar, pois, através de uma mazela na família, é atingida a própria igreja local e, por conseguinte, a obra do Senhor.

- O descuido na vida devocional familiar, tão freqüente nos nossos dias, é um dos fatores poderosos para as grandes dificuldades que as igrejas locais têm enfrentado nestes dias finais da dispensação da graça. Quando vemos, notadamente na Europa, várias igrejas locais fechando suas portas e comunidades inteiras desaparecendo, encontraremos a explicação para tais fenômenos na destruição da família conforme o modelo bíblico que o Velho Continente tem sofrido, notadamente após o término da Segunda Guerra Mundial.

- O ponto alto da vida devocional familiar é o culto doméstico, ou seja, o instante em que toda a família se reúne e presta um culto ao Senhor. É o momento em que a família expõe as suas necessidades, os seus sentimentos, os seus objetivos, os seus anseios e os coloca diante do Senhor, bem como faz os devidos agradecimentos e permite que cada membro da família compartilhe com os demais a vida de comunhão que está tendo com Deus. É o momento em que, efetivamente, assumimos e reconhecemos que Deus é o chefe de nossa família, é o Rei Soberano que está traçando as nossas vidas, que possuem uma comunidade, um objetivo comum estabelecido por todos dentro da vontade do Senhor.

- A família que cultua a Deus freqüentemente em sua casa é uma família que, habituada a adorar o Senhor em casa, não terá dificuldade em prestar um culto reverente na igreja local; é uma família que aprende a Palavra do Senhor em casa e que, portanto, complementa seus conhecimentos, aprofundando-os, na igreja local, ajudando o ensino daqueles que, por falhas domésticas, têm na igreja a única fonte de conhecimento da Palavra de Deus; uma família que ora em casa, não tem dificuldade em ser uma intercessora da igreja local, de seus projetos, planos e necessidades; uma família que ora em casa, é uma família vigilante, que sabe discernir a presença de Deus e que, assim, é grande colaboradora da liderança da igreja local no crescimento espiritual e na identificação do logro e do engano.

- Nos dias em que vivemos, em que a freqüência à casa do Senhor é, no mais das vezes, de uma ou duas vezes por semana, mormente nas grandes metrópoles, onde a distância entre emprego e residência é grande, a consumir horas de trânsito e transporte que inviabilizam a presença em todas as reuniões, é cada vez mais imperioso que se tenha o culto doméstico na vida devocional de cada um dos cristãos.

- Nos dias em que vivemos, em que as igrejas locais têm crescido bastante e o ambiente afetivo tem rareado, num grave comprometimento do modelo bíblico na igreja primitiva, o culto doméstico surge como sendo absolutamente necessário para que a presença do Senhor e a adoração ao Seu nome possam estar associados ao afeto e ao sentimento, sem o que os jovens e adolescentes serão presa fácil das mil e uma oportunidades oferecidas pelo inimigo para que tenham o exercício das sensações que são próprias do ser humano.

- Nos dias em que vivemos, em que o adversário tem se utilizado dos meios de comunicação como grande divulgador de suas mentiras, de seus valores e do caminho largo que conduz à perdição, é o culto doméstico a forma de estabelecermos o império de Deus e de Sua Palavra à nossa família, como verdadeiro antídoto para o veneno que tem sido lançado constantemente por este mundo mau contra nossos filhos.

- O culto doméstico é o instante em que podemos exercer, como pais, o múnus de ensinar a Palavra de Deus a nossos filhos, como foi visto na lição anterior, bem como o indispensável início para que as igrejas locais estejam sempre plenas da presença do Espírito de Deus e possam ter poder e autoridade para efetuar o trabalho de evangelização que se exige nestes dias que antecedem à volta do Senhor.

- O culto doméstico é a arma que o Senhor deixa ao alcance de cada pai para que possa levar seus filhos a uma instrução genuína na Palavra do Senhor e possa receber dos filhos uma vida de alegria e de esperança de vermos todos naquele grande dia diante do Senhor.

- Diante de tantas vantagens e bênçãos, o irmão vai continuar sendo omisso e manter esta sua atual conduta de ausência completa e absoluta de culto doméstico em seu lar ? Sabemos que o início será difícil e a própria perseverança nesta conduta será árdua, mas vale a pena sacrificar-se e aos maus costumes para transformar a sua família num altar e de, assim, colaborar vigorosamente para o crescimento da obra de Deus na igreja local a que o querido irmão pertence. "Não to mandei eu ? Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes, porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer queandares."(Js.1:9)

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